UM MONTE DE GOLS PERDIDOS E O NASCIMENTO DE UMA LENDA: ‘GIBALOTELLI DE GOIANINHA”



Semana polêmica a que passou em decorrência da crônica assinada por Tales ‘Maravilha’. Na verdade, a alcunha perdeu a força. De “maravilha” ele num tem mais nada. Agora é Tales “Cajuru”. O texto foi assimilado por uns, idolatrado por outros, contestado por alguns. Acho que foi bom. Colocou um ingrediente a mais no campeonato. Muita coisa do que Tales “Cajuru” disse é o que venho falando a cada semana. Só que ele foi mais enfático, direto, incisivo. Escreveu com a tinta da derrota e deixou que o passional aflorasse. Coisa que já fiz aqui em outros momentos. Mas eu gostei. Deu um novo tom ao espaço que, repito, é democrático. É só se dispor que a caneta será dada.

Enfim. A primeira consequência do texto de Tales foi a ausência de Elacyr na sede da ASTRA neste sábado. O nosso torcedor-mor, tão presente nas manhãs dos sábados com sua boa conversa e sua experiência de boleiro setentão lá não apareceu. Sentimos a sua falta, Elacyr!!!

Mas as partidas do sábado revelaram surpresas. A vitória no primeiro jogo seria a quase garantia do primeiro lugar para a JF (já dentro da semifinal) e da classificação para o Real Natal. Jogo franco e aberto em busca dos três pontos. Pela direita um bom duelo de carecas reluzentes. De um lado Cesar ou Henrique “Espinho”. Do outro Fernando “Josimar”. No gol da JF a manutenção do rodízio que tem sido utilizado nos últimos jogos. Um tempo com George Gentile, no outro Biúla. A última vez que eu vi esse rodízio se deu nos anos 80 quando a Inglaterra usava Ray Clemence num jogo e Peter Shilton em outro. Este último terminou tendo Maradona como algoz no gol chamado de “la mano de Diós”, na Copa do México de 1986.

Falando em mão, nosso eterno zagueiro misto de metrossexual e temperamental Laércio (JF) passou todo o jogo evitando usar suas reluzentes chuteiras Pink, certamente para não sujá-las de poeira. Meteu a mão na bola umas cinco vezes e só Charles Elliont que não viu. Na única vez que usou os pés isolou um bom ataque e até agora o caseiro Ângelo está procurando a bola naquele coqueiral vizinho à sede.

E o jogo seguia com os times como dois franco-atiradores. Chuva de gols perdidos de ambos os lados. Gentile – que nesta resenha será poupado, pois não definirei uma ave a lhe representar – fez duas belas defesas no chão em chutes de fora da área de Jader. Na primeira ainda teve um corta-luz (à lá Gibeon) de Marcelo Patinha a trazer mais dificuldades na defesa.

A atuação de Marcelo Patinha lembrou um antigo centroavante que o América de Goianinha trouxe no fim dos anos 70. Oliveira Piauí, era o nome do cara. Fez 05 gols na estreia e passaram a chamá-lo de “Sacola de gols”. O saco furou, poucos gols voltaram a acontecer e logo ele foi dispensado. Pois bem. A sacola de gols perdidos por Marcelo no jogo de sábado não foi páreo para a sacola de Oliveira. Impressionante.

Do outro lado Augusto, como dono do time, usou a patente no Sete de Setembro, deu ordem unida na tropa e obrigou que jogassem para ele ser o artilheiro. Denilson e Cipriano tiveram que bater continência para o “Superior” e servi-lo por todo o jogo. Mas a do Superior é correr e não fazer gols. Perdeu chances inexplicáveis, uma delas debaixo da trave ao tentar dar uma puxeta e a bola explodiu em seu braço. No fim do jogo, imprudentemente, ainda na tentativa inútil de balançar as redes do adversário, “chutou uma jaca” involuntariamente armada e saiu do jogo com o tornozelo em forma de melancia.

Como a moral de Augusto é pouca e não comanda nem na Vara, nem na pelada, nem em casa, a pergunta que se faz é a seguinte: Por que Augusto Superior??? Superior em que, Augusto???? Coincidentemente os gols da JF foram marcados pelo tenente Cipriano, infante combatente, e Denilson, membro do esquadrão de fogo, que esqueceram as ordens do Superior(???) e fizeram a alegria dos Federais.

Mesmo dois a zero e o Real Natal pressionava. Cesar cobrou uma bela falta por cobertura e seria gol de placa, mas a bola teimou em subir um pouco mais. Cuca, do lado de fora, pedia para entrar. Ele que é o “Nunes” do Real, o “João Danado”, o artilheiro das grandes decisões, título que o ex-centroavante do Flamengo recebeu ao marcar nas finais do Brasileiro de 1980 com o CAM e 1982 contra o Grêmio, na final do Carioca de 1981 contra o Vasco e no Mundial de Clubes contra o Liverpool. Ninguém queria sair. Cuca exigiu: “Sou o novo dono do time. Paulo Rogério já passou a escritura”. Mostrando ser mais superior de que Augusto “Superior”, deu ordens para o tenente Adriano Rufino sair. Ordem dada, missão cumprida.

No primeiro lance, Cuca recebe a bola na posição de pivô, tem a implacável marcação dupla de Laércio e Marcelo Monteiro, mas acha milimétrico espaço para, socraticamente, de calcanhar encontrar Patinha que, finalmente, conseguiu colocar para dentro do gol adversário.

Cuca, então, num rompante de explosão interior, correu para a torcida e, num cacófato inexplicável, dizia: seucuqueu, seucuqueeu, seucuqueeu!!!!

Pausa. Vamos explicar para aqueles que já saíram da escola há muito tempo e sabem, mas não se lembram, do que é um cacófato. É um encontro de vocábulos (ou sílabas) que formam nova palavra de sentido ridículo ou obsceno. Ok? Então. O que Cuca quis dizer foi a frase em que afirmava e se firmava em campo como um “artilheiro das decisões”. Disse ele, num português rasteiro, errado, mas entendível: SEU CUCA É EU!!!!!

Com essa é melhor eu parar a narrativa desse jogo.  Final da partida JF 2x 1 RN.

Segunda partida. O Meia Boca, um dos alvos da bateria disparada por Tales “Cajuru”, preparava-se para enfrentar a sensação do segundo turno. Os Piratas, embora sem ganhar de ninguém, havia dado trabalho ao Real Natal e ao JURIS nas duas últimas partidas.

Porém, os Piratas vinham desfalcados da força jovem de Caio e nem tão jovem assim de Sérgio Bolha. As vozes das arquibancadas disseram que Bolha não foi porque sabia que a surra ia ser grande e ele poderia dizer que só ganharam porque ele não estava jogando.

Além dos desfalques, Arcanjo, estilista e cadenciador de jogadas estava com virose e jogou no sacrifício. José Maria, viril zagueiro, já devidamente denominado de Capistrano Jr em face da semelhança física e das caneladas voluntárias, parecia desmotivado em razão da ausência dos companheiros. Passou três quartos mais preocupado em espanar bolas bobas e tirar satisfações com Scala. Enfim, os Piratas voltaram a ser Piratas e Fábio jogava só.

Com 15 segundos de jogo o Meia Boca abriu o placar com Scala. Certamente foi o detalhe que fez o time dos Piratas desestabilizar. O jogo ficou fácil e o primeiro tempo terminou em 7 gols para o MB e não é conta de mentiroso. O detalhe é que nem com um adversário fraco Gibeon, o “Beon de Goianinha”, entrou no jogo em todo o primeiro tempo. Questionado o porquê, ele respondeu, seco: “sou um garçon”.

Antes de se preparar para começar jogando o terceiro quarto, Gibeon se deixou baixar o espírito de Evandro Mesquita (que por sinal sabe jogar futebol) e disse a todos:

Vocês verão uma atuação que abalará toda uma geração,
Um gol que marcará toda uma época.
Vocês verão BEON no melhor papel de sua carreira,
BEON amando, sofrendo, chorando
E jogando como jamais alguém ousou jogar
Em toda a história dos gramados de Natal a Goianinha!!!

No primeiro lance de efetiva participação do novo avante, ele recebeu bola açucarada debaixo da trave. Era só deixar a bola bater nele e entrar no gol. No entanto, acertou a canela na orelha da bola provocando os apupos de toda a torcida. O lance provocou profundo abalo emocional. Nos dois lances seguintes, ao tentar um simples passe aos companheiros, mais uma vez a bola encontrou a canela do fenômeno de Goianinha. Então, aquele tradicional gesto de dois dedinhos rodando entre si pedindo substituição. Beon voltava ao banco 5 minutos após ter entrado no jogo.

Questionamentos daqui e dali. Ele vai tentando se explicar. Mais uma frase de efeito: “me aguardem”. Parecia uma profecia.

O jogo rola e no fim do terceiro quarto Fábio, que jogava sozinho, foi agraciado com o único gol dos Piratas enquanto a partida já estava em 9. Nenhum gol de Gibeon. Nenhum gol de Laumir. Capistrano Jr e Scala já não disfarçam a rixa. Charles tem de intervir.

No quarto quarto, quando as coisas acontecem, Gibeon retorna a campo. Antes, um lance que poucos observaram, mas que no meu aguçado faro de administrador do campeonato não deixo passar. Capistrano Jr, humilde, como se entendesse que já são 10x1 e a partida tá liquidada, dirige-se a Scala e o cumprimenta com um abraço e aperto de mão. Um sincero pedido de desculpas. O convidado do Meia Boca, estiloso e craque nas relações humanas como é no gramado, aceita está tudo bem. Que bom que todas as rusgas intracampo fossem resolvidas assim, civilizadamente.

 De repente a torcida cala. Beon cai na área em lance fora da jogada. Pede atendimento médico. Olhos de suspense de todos os que estavam na ASTRA 21. Havia se machucado sozinho o prodígio??? Levanta-se. Faz uma careta goianinhense e olha atravessado para o cotovelo, como que pondo nele a culpa pelos lances de canela anteriores. Faz um legal para a torcida. Tudo ok com o goleador.

Já são 10 gols do Meia Boca e tanto Beon quanto Laumir ainda não “tiraram o dedo”. Nenhum gol dos dois. A torcida cobra. Gibeon impaciente. De repende, a bola na área procura Gibeon. Pensamento rápido e impiedoso do verdadeiro artilheiro. Como um Romário, um Reinaldo do Atlético Mineiro, um Ronaldo Fenômeno, deixa a bola passar entre as penas e toca com a parte interna do calcanhar e a bola morre mansamente no fundo do gol. Um gol de placa. Um gol para ficar na história. Um gol para ser contado para todas as gerações futuras. Um gol com a marca do artilheiro cerebral.

Ele, com a marra dos marrentos, vai em direção a torcida, tira a camisa e faz a pose que consagrou Balotelli. Criou-se um novo personagem no mundo do nosso campeonato: GIBALOTELLI, é o nome da fera, diria Galvão Bueno se estivesse narrando a partida.

Mas nem tudo são flores. Charles Elliont, disciplinador, deu o cartão amarelo pela prática de quebra de decoro e pudor do artilheiro em teimar de expor suas pelancas flácidas e poucas mechas grisalhas a enfeitar um abdome semi sarado em ambiente público e familiar.

Como se ainda tivesse algo a provar, Gibalotelli ainda deixou outra marca, desta feita de cabeça, marcando seu segundo gol.

Fim de partida. Meia Boca 13x1 Piratas. Isso Senhores, quatorze gols no jogo. Dois de Gibalotelli. Nenhum de Laumir...  



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